domingo, 2 de março de 2014

Os eclesiásticos e a sala de aula: uma realidade possível (!?)

No decorrer dos séculos a prática do ensino na sala de aula se tornou cada vez mais uma atividade puramente laicizada em referência à sua origem entre os eclesiásticos que encetaram o ensino universitário como conhecemos hoje.
Inácio de Sousa Rolim,
natural de Cajazeiras (1800-1899),
sacerdote católico e educador brasileiro
Os eclesiásticos sempre foram os pioneiros do ensino para a formação do homem ocidental da era cristã. Exemplos não faltam: Ambrósio, Agostinho, Abelardo, Tomás de Aquino; mais próximos de nós: Pe. Rolim, Pe. Ibiapina, Mons. Trindade... Só para citar alguns. Foram estes os responsáveis em transmitir o conhecimento que ora receberam, e que se empenharam em propagar a prática do ensino. São os catedráticos do saber! Os ícones para todo magistrado. Contudo o amor ao ensino parece-nos esvair-se do seio eclesial, limitando-se apenas aos púlpitos de nossas igrejas que, de certo, também constituem um lugar do ensinamento. Mas este sacro ambiente, de igual modo, exige do mestre um laborioso empenho para o ensino, consoante a dignidade do espaço.
Não sem motivo parece-nos preocupante que boa parte dos eclesiásticos atualmente se abstenha da prática do ensino na sala de aula, apesar de o Sagrado Concílio afirmar que "dentre todos os recursos educativos, possui a escola importância peculiar" (GE, 5). Portanto, essa realidade, onde se efetua a transmissão de conhecimento, vem sendo rechaçada por alguns que certamente não se inspiraram nos iniciadores do ensino escolar.
Aula na Universidade de Paris
durante a Idade Média
Não obstante, muitos dos clérigos, que após receberem primorosa formação intelectual, mantêm-se inoperantes na produção do conhecimento, outros, ao contrário, mostram-se empenhados no amor ao ensino. Todavia, por vezes, alguns procuram apenas manter a posição de receptores, buscando somente confluir ao corpo discente universitário, e dessa forma, não assumindo o magistrado. Portanto, caros colegas, os anos de formação intelectual que os eclesiásticos são submetidos devem ser transmitidos, pois, "isso que vimos e ouvimos (na sala de aula) nós vos anunciamos [...]" (cf. 1Jo 1, 3a), para que a formação adquirida produza o fruto para o qual é ensinada. Com isso, não queremos, entretanto, afirmar o ensino escolar em detrimento da prática religiosa que caracteriza os sacerdotes, mas, queremos incitar a reflexão acerca do ensino acadêmico entre os que, outrora, propuseram tal prática.
Portanto, fica para nós refletirmos sobre a realidade da sala de aula entre os religiosos, visto que, no nosso entendimento, diploma no escaninho é alimento para traça e não possibilidade de produzir e passar conhecimento. Assim, cabe-nos fomentar o exercício do ensino acadêmico e julgar se a realidade dos eclesiásticos e a sala de aula são condizentes no atual contexto de ensino.