terça-feira, 24 de maio de 2016

A ascese protestante e o capitalismo moderno


Max Weber (1864-1920)
            Considerado um dos clássicos da sociologia, o alemão Max Weber (1864-1920) teve em sua trajetória intelectual o reconhecimento de grande parte de seu trabalho como pensador do estudo do capitalismo ao analisar o processo de racionalização chamado “desencantamento do mundo” frente o protestantismo e a economia.
            Em sua obra A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo – texto considerado o mais conhecido do autor – Weber lança o seu olhar para as relações entre o capitalismo e o protestantismo calvinista na construção da nova sociedade puritana na Europa de sua época.
            Para Weber, a religião possui um aspecto fundamentalmente importante no desenvolvimento da sociedade. Reconhece também que a disciplina e a pregação dos lideres cristãos exerce influência na vida individual das pessoas e em toda nossa sociedade. Em discussão com o puritanismo calvinista ele observa a ideia de vocação em contraposição à ascese católica da Idade Média que via a riqueza em si como um sério perigo para a santificação. Os protestantes calvinistas ingleses não viam obstáculos na riqueza do clero; antes, um aumento da sua reputação mediante aplicação de juros em seus negócios visando o lucro.
            Segundo ética protestante o trabalho ganha uma significativa ênfase no combate ao ócio improdutivo “Pois o ‘eterno descanso da santidade’ encontra-se no outro mundo; na Terra o Homem deve, para estar seguro de seu estado de graça, ‘trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado’” (Weber). Assim, perder tempo significa, agora, o principal pecado. A sentença “Time is Money” de Franklin passa a ser observada em um sentido espiritual, onde toda hora perdida redunda na perda da glorificação de Deus. O trabalho constitui, antes de tudo, a finalidade da vida, pois, conforme a expressão paulina “quem não trabalha não deve comer” e isso vale para todos, ricos e pobres.
            Outro aspecto da ascese protestante é o fomento das especializações dos trabalhos individuais gerando uma melhoria tanto quantitativa quanto qualitativa. O trabalhador especializado efetuará seu ofício ordenadamente. Sua vida profissional é sinônima de seu estado de graça. Não é a santificação de um povo, uma comunidade, mas a Graça divina no indivíduo moralmente aceita como vocação para o trabalho pedida por Deus. O self-made man ou empreendedor autônomo é a demonstração da aprovação ética. Deus abençoa os negócios para aqueles homens que aproveitam as oportunidades divinas. A utilidade de uma vocação é orientada por critérios morais, pelos bens e principalmente pela lucratividade.
O Quaker era um grupo religioso
entre os puritanos
            A atitude do puritanismo em sua crença de ser tido como povo escolhido por Deus caracteriza os representantes dessa nova ética emergente da burguesia saída após o período medieval dos nobres ociosos sentados em seus tronos e cátedras de luxo.  Os novos protestantes representam uma época heroica do funcionalismo racional do capitalismo urbano focado nos lucros dos pequenos empreendedores individuais.
            Essa busca pela lucratividade corroborada pela crença religiosa trouxe um acúmulo de bens nas sociedades protestantes, mas também uma perda significativa nas artes, afinal o puritanismo tinha um ódio feroz contra tudo que cheirasse a superstição mágica e festividades com símbolos religiosos, como por exemplo, árvore de Natal e pinturas artísticas nos templos. Essa característica tendência para a uniformidade da vida contribui para a padronização capitalista visando o uso racional e utilitário da riqueza.  Ostentar o luxo na vida religiosa e ceder à idolatria da carne.

Mas, o que era ainda mais importante: a avaliação religiosa do   infatigável, constante e sistemático labor vocacional secular como o mais alto instrumento de ascese, e, ao mesmo tempo, como o mais seguro meio de preservação da redenção da fé e do homem, deve ter sido presumivelmente a mais poderosa alavanca da expressão dessa concepção de vida, que aqui apontamos como “espírito” do capitalismo. (Weber)


            Esse estilo de vida favoreceu o estabelecimento de uma vida econômica racional tendo sido o berço do moderno “homem econômico”.  A conduta racional baseada na ideia de vocação torna-se o elemento fundamental para a compreensão da ética protestante e o espírito do capitalismo, pois a ação do indivíduo, sendo ela religiosa ou não reverbera na transformação da sociedade. Neste caso, podemos dizer que há um “desencantamento do mundo”, onde a arte e a mágica das curas dá espaço para os homens agraciados pelo labor e seu desenvolvimento cultural como “especialistas sem espírito, sensualistas sem coração” para elevar o crescimento racional e econômico do indivíduo e sua sociedade.

Puritanos


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