domingo, 19 de novembro de 2017

Gestão escolar e financiamento: da social-democracia ao neoliberalismo à brasileira


Adriano Felix da Silva[1]
                     
  
            Ao abordar a temática da gestão escolar e financiamento vemos a necessidade a priori de procurar entender a gestão escolar no bojo da política pública. Desse modo, podemos compreender a política pública como as ações que os Governos procuram realizar a fim de intervir, pelo Estado, nos conflitos sociais, em setores específicos da sociedade.
            Para tanto, vemos que as políticas públicas representam o esforço na construção a partir de demandas sociais que historicamente se institucionalizaram e foram reconhecidas como direitos do cidadão brasileiro. Nesse sentido, podemos perceber, através da leitura de Martins (2010) que, é de responsabilidade do Estado garantir o financiamento a esses direitos ao cidadão. Pensamento este, que podemos corroborar ao evocar a Constituição de 1934, que inclui um capítulo acerca da ordem econômica e social, e pelo florescimento da abordagem Keynesiana numa maior intervenção do Estado voltado para o bem-estar social desenvolvido em escala mundial. “Consolidou-se um tipo de Estado que planeja, intervém na economia e cria políticas sociais, como o Welfare State inglês, o État-Providence francês e o Sozialstaat alemão, cada qual com seu perfil e história próprios” (BEHRING; BOSCHETTI, citado por MARTINS, 2010). Mas, enquanto ao Brasil, temos um plano nacional?
            Pelo menos a Constituição Cidadã, de 1988, sela, o compromisso do Estado Brasileiro com a produção de políticas públicas cuja ordem social tem por objetivo o bem-estar e a justiça social (art. 193), mesmo que o liberalismo econômico, iniciado na década de 1970, veja os investimentos sociais como gastos patológicos a serem sanados pelo mercado.
            Desse modo, quem financiaria a educação nacional? Os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998; 1999-2002) implantaram programas liberais centralizados no âmbito federal em prejuízo à colaboração recíproca entre os entes federados, contribuindo assim para a desarticulação de experiências e projetos para a educação que viam sendo elaborados para e educação básica; forçando, sobremaneira, os sistemas e escolas a buscarem fontes complementares de renda. Todo esse cenário produzido pelo liberalismo da década de 1990, parece-nos promover uma ambiguidade na relação entre as políticas pública, pois, certamente, o caráter inclusivo e democrático faz prevalecer a ênfase gerencial, com forte viés tecnicista e produtivista e dá parecer de normalidade à desigualdade do cenário em que se dá a educação brasileira, como vemos a partir de Dourado (2007).
           Nesse ínterim, analisamos a gestão sobre a educação que passa a contar com as relações público/privado e suas consequências sob a perspectiva de Peroni (2012) que destaca a gestão democrática da educação em tempos de parceria entre o público e o privado. Esse movimento de financiamento da educação básica considera como o público não estatal influencia a gestão pública por meio de parcerias. Sobre “privado” logo nos vem à tona o caráter capitalista de uma sociedade e, por conseguinte sua lógica de mercado. E é essa mesma lógica que é introduzida na escola pública. Peroni destaca que esse tipo de parceria surgiu como uma terceira via em resposta aos embates ideológicos entre a social-democracia (política que apoia intervenções econômicas e sociais do Estado para promover justiça social dentro do sistema capitalista) e o neoliberalismo (defende o Estado mínimo em assuntos econômicos e o livre mercado). Cria-se o quase-mercado[2] para que o neoliberalismo tenha uma maior aceitação entre a população. Escolas consideradas boas, com os investimentos do setor privado é o resultado da aplicação da parceira público/privado fomentado pela Terceira Via que se coloca entre o neoliberalismo e a social-democracia, mas não rompe com a ideia de que o Estado é culpado pela crise econômica gerada pelos gastos com o social. Dessa forma, tanto o neoliberalismo quanto a Terceira Via utilizam uma gestão gerencial como parâmetro para a educação pública. O individualismo é marca desse sistema que busca na meritocracia a meta para uma educação pautada na disputa de mercado, na qual, cada vez mais vem ganhando espaço entre a população pelo seu chamado apelativo de marketing impecável.
            Nossa história, enquanto identidade nacional parece-nos que vai sendo tecida através de nuances ideologicamente produzida, mas o que parece permanecer entre nós é que, sempre que nos afirmamos como nação, que busca a justiça e a ordem social, somos surpreendidos por um retorno à ideologia neoliberal a fim de estabelecer um pacto para apaziguar o mercado à moda brasileira, tipo “um grande acordo nacional, [...] com tudo”.


REFERÊNCIAS:

DOURADO, Luiz Fernandes. Políticas e Gestão da Educação Básica no Brasil: limites e perspectivas. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 921-946, out. 2007.

MARTINS, Paulo de Sena. O financiamento da educação básica como política pública. RBPAE – v.26, n.3, p. 497-514, set./dez. 2010.

PERONI, Vera Maria Vidal. A gestão democrática da educação em tempos de parceria entre o público e o privado. Pro-Posições, Campinas, v. 23, n. 2 (68), p. 19-31, maio/ago. 2012.



[1]  Graduando em Ciências Sociais (Licenciatura) pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. E-mail: adrianocroft@hotmail.com
[2] “Trata-se de um espaço de disputa por um bem altamente valorizado pela maior parte da sciedade: escolas consideradas boas”. Disponível em:  http://www.revistaeducação.com.br/logica-de-quase-mercado/. Acesso em: 05/10/2017.

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